quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

VOCÈ VAI GANHAR UM IRMÃOZINHO...


Você vai ganhar um irmãozinho!...?

Aí está uma frase que pode soar para a criança pequena como algo parecido com “Vamos receber um ET em casa” ou da categoria do incompreensível, do “não há registro”. Este assunto precisa se transformar, imediatamente, em um canal de conversas, de indagações, enfim, sobre mudanças planejadas e compartilhadas, umas mais, outras menos visíveis. São transformações inevitáveis para a própria criança e para os demais envolvidos na cena...                  

Só para se ter uma ideia de como funciona a cabecinha de uma criança de cerca de uns três anos, certa vez, uma delas disse, bem baixinho, a sua mãe: “Vou te contar um segredo e não conta pra ninguém: Minha professora vai ter um bebê”. Acontece que a referida professora já estava no finalzinho da gestação... Este é o mundo infantil repleto de fantasia, de uma maneira toda própria de se imaginar e de se tentar entender tanta novidade ao seu redor. A sorte é que a criança costuma expressar os seus pensamentos e os seus sentimentos. E é bom que seja assim! Mas é essencial que exista uma escuta competente. Qualquer evento pelo qual passe a família, tanto em situações de ganho, quanto de perda, certamente, funcionará como um trampolim para o crescimento intelectual, afetivo e social da criança. O ambiente ao seu redor, sim, precisa estar atento e acolhedor para favorecer uma direção saudável a este crescimento.

Por falar nisso, dizem que não há nada melhor do que um irmão para preparar alguém para a vida. Seja na vivência das rivalidades, seja no aprendizado das partilhas. Aliás, ingredientes que o mundo vive a exigir habilidades. Pois é, um irmão pode ser um bom trailer para tudo isso. Mesmo que, de início, ele arrisque tomar o lugar de alguém, que vinha reinando confortavelmente na família... E que vai precisar doar até o próprio ninho, para ganhar uma cama nova, pois, da noite para o dia, constata-se que o filho cresceu e que já virou um rapazinho ou uma mocinha... “Mas até ontem eu era o bebê dessa casa, gente!” Os pais que, antes, podiam demonstrar dedicação exclusiva ao primogênito, parecem muito ocupados com um tanto de coisa ao mesmo tempo: consultas e exames, mudanças na casa e no orçamento e, pasmem, até mesmo o corpo da mamãe vem passando por mudanças. Seu colo anda ficando diferente, rechonchudo, “mal me cabendo.”

Pode-se imaginar, então, o que esta criança poderia dizer, caso já tivesse certa clareza da situação: “Gente, sinto algo de muito estranho no ar, quando vocês dizem que o meu irmão ou irmã que está pra chegar, vai ser um alguém legal e que vai brincar muito comigo. Sei não, só está ganhando as minhas roupinhas e os meus brinquedos e, olha que ele ainda nem chegou. Portanto, peço que tenham um bocado de paciência comigo, pois vou sentir muito, mas muito ciúme mesmo dele, aliás já começou. Às veazes, eu vou demonstrar este ciúme, voltando às fraldas ou ao bico. Ou ainda vou querer me aconchegar, de madrugada, bem no meiozinho da cama de vocês. Mas nada de anormal, nada que traga maiores preocupações, pois vai passar e é preciso que passe bem. E, logo, logo, como dizem por aí, estarei na faculdade!

Mas enquanto isso, vou precisar e muito de um precioso tempo e de boas companhias para compreender tudo que está se passando e para que eu possa expressar, com confiança, os meus sentimentos. Bem sei que tudo isso vai acabar por me fazer uma pessoa melhor. Aliás, ter um irmão, segundo dizem os especialistas, vai apressar o aparecimento de inúmeras capacidades minhas, sendo a mais importante de todas, certamente, o aprendizado da generosidade.”
                                                                                                Cristina Fellet - psicóloga