Você
vai ganhar um irmãozinho!...?
Aí está uma frase que pode
soar para a criança pequena como algo parecido com “Vamos receber um ET em casa”
ou da categoria do incompreensível, do “não há registro”. Este assunto precisa se
transformar, imediatamente, em um canal de conversas, de indagações, enfim,
sobre mudanças planejadas e compartilhadas, umas mais, outras menos visíveis. São
transformações inevitáveis para a própria criança e para os demais envolvidos
na cena...
Só para se ter uma ideia de como
funciona a cabecinha de uma criança de cerca de uns três anos, certa vez, uma
delas disse, bem baixinho, a sua mãe: “Vou te contar um segredo e não conta pra
ninguém: Minha professora vai ter um bebê”. Acontece que a referida professora
já estava no finalzinho da gestação... Este é o mundo infantil repleto de
fantasia, de uma maneira toda própria de se imaginar e de se tentar entender tanta
novidade ao seu redor. A sorte é que a criança costuma expressar os seus pensamentos
e os seus sentimentos. E é bom que seja assim! Mas é essencial que exista uma
escuta competente. Qualquer evento pelo qual passe a família, tanto em
situações de ganho, quanto de perda, certamente, funcionará como um trampolim
para o crescimento intelectual, afetivo e social da criança. O ambiente ao seu
redor, sim, precisa estar atento e acolhedor para favorecer uma direção
saudável a este crescimento.
Por falar nisso, dizem que não
há nada melhor do que um irmão para preparar alguém para a vida. Seja na
vivência das rivalidades, seja no aprendizado das partilhas. Aliás, ingredientes
que o mundo vive a exigir habilidades. Pois é, um irmão pode ser um bom trailer
para tudo isso. Mesmo que, de início, ele arrisque tomar o lugar de alguém, que
vinha reinando confortavelmente na família... E que vai precisar doar até o
próprio ninho, para ganhar uma cama nova, pois, da noite para o dia,
constata-se que o filho cresceu e que já virou um rapazinho ou uma mocinha...
“Mas até ontem eu era o bebê dessa casa, gente!” Os pais que, antes, podiam
demonstrar dedicação exclusiva ao primogênito, parecem muito ocupados com um
tanto de coisa ao mesmo tempo: consultas e exames, mudanças na casa e no
orçamento e, pasmem, até mesmo o corpo da mamãe vem passando por mudanças. Seu
colo anda ficando diferente, rechonchudo, “mal me cabendo.”
Pode-se imaginar, então, o
que esta criança poderia dizer, caso já tivesse certa clareza da situação: “Gente,
sinto algo de muito estranho no ar, quando vocês dizem que o meu irmão ou irmã
que está pra chegar, vai ser um alguém legal e que vai brincar muito comigo.
Sei não, só está ganhando as minhas roupinhas e os meus brinquedos e, olha que
ele ainda nem chegou. Portanto, peço que tenham um bocado de paciência comigo,
pois vou sentir muito, mas muito ciúme mesmo dele, aliás já começou. Às veazes, eu
vou demonstrar este ciúme, voltando às fraldas ou ao bico. Ou ainda vou querer
me aconchegar, de madrugada, bem no meiozinho da cama de vocês. Mas nada de
anormal, nada que traga maiores preocupações, pois vai passar e é preciso que
passe bem. E, logo, logo, como dizem por aí, estarei na faculdade!
Mas enquanto isso, vou
precisar e muito de um precioso tempo e de boas companhias para compreender
tudo que está se passando e para que eu possa expressar, com confiança, os meus
sentimentos. Bem sei que tudo isso vai acabar por me fazer uma pessoa melhor.
Aliás, ter um irmão, segundo dizem os especialistas, vai apressar o aparecimento
de inúmeras capacidades minhas, sendo a mais importante de todas, certamente, o
aprendizado da generosidade.”
Cristina Fellet - psicóloga